terça-feira, 23 de novembro de 2010

O que ficou...



 Bem, acredito que esta seja a última postagem desse blog. Em termos numéricos, não foram feitas muitas postagens aqui, no entanto, tentei reunir os principais pontos de cada semana para que a construção desse veículo ficasse coerente com as experiências adquiridas.
    Sem dúvidas, eu não conseguiria em uma única postagem contemplar tudo o que me foi proporcionado nesses últimos meses. Cada momento foi especial e determinante para a minha formação, pois creio que toda a carga de aprendizado que a gente leva interfere na nossa formação num futuro próximo. Logo, cada quinta feira trouxe algo de novo pra mim, sendo um dos principais estimulantes desse semestre complicado.
    Lamento por estar chegando ao fim, porque este era um dos contatos mais próximos proporcionados à nós até o momento, mas sabemos que a nossa vida é composta por ciclos e portanto para que alguns novos se instalem é necessário que outros se desfaçam, e isso não é necessariamente algo ruim quando aprendemos a extrair o que cada um pôde nos trazer de mais importante.
    Talvez algo que mais tenha me chamado a atenção após uma breve reflexão a respeito desse período foi o quanto essa experiência é relevante não somente no sentido do curso em si, mas também sobre a nossa humanização e conceitos que envolvem a nossa sociedade. Digo isto porque o PSF me trouxe valores significantes, além de mudar paradigmas previamente estabelecidos não sei se por mim ou pela sociedade que me cerca. Nada como estarmos pertos para construir pensamentos e desenvolver o espírito da autocrítica.
    Um exemplo prático e simples que eu posso dar diz respeito ao impacto que os determinantes sociais têm sobre a saúde como um todo. Antes eu conhecia apenas de ouvir falar, mas agora pude organizar uma crítica pessoal embasada na experiência que eu mesma vivi. Fatores como a pobreza, educação precária, falta de recursos, informação escassa são fatores diretamente associados com o bem estar físico e mental de cada indivíduo. É muito fácil julgarmos quando estamos de fora, mas quando nos incluímos na realidade destes somos capazes de entender um pouco das dificuldades enfrentadas por cada um e a influência sobre suas vidas. Por isso, acredito que um dos valores mais preciosos talvez reforçado, talvez aprendido  nesse período seja a Humanização.
    

    
  Mediante a categorização que fizemos conjuntamente nessa última quinta feira, grupos de idéias distintas foram feitas a partir de uma chuva de palavras que expressavam pensamentos soltos e que no fim apresentaram uma lógica fantástica, de maneira que muitas delas pareciam complementos indispensáveis de outras. Assim, percebemos que não eram palavras soltas e sim interligadas de uma forma ou de outra e compartilhado se não por todos pela maioria dos que ali estava, porque o entrosamento e familiaridade eram fatos reais naquele momento.
  Portanto, para cada categorização  que fizemos destacarei pontos, ou melhor, palavras mais condizentes com a minha experiência pessoal:

Campo Prático: Jaleco, gratidão, presença, conversar, auxílio, engarrafamento, contraste, convivência, recusa, Dra Patrícia, pobreza, consulta, greve, VD, desigualdade, satisfação, reflexão, horário, atenção, persistência, interesse da família, determinação, confiança, progresso, comunidade, pão com mortadela, respeito, carinho, criança, aconselhamento, idoso, micro-área, carência, compromisso, realidade, prática é tudo;

    Nesse campo, pessoalmente eu destacaria os componentes abstratos que trouxeram  grandes marcas, como a gratidão (nada se compara ao sentimento de gratidão gerado nas famílias que acompanhamos e a exposição desta para nós); carinho (compartilhar desse carinho de forma recíproco foi realmente gratificante); respeito (privilégio grande dos que conseguem entendê-lo; não é uma questão de concordância ou não, mas sim de entendimento dos direitos e valores de cada um); carência (uma verdade às vezes dura, mas real); confiança (nunca pensei que as pessoas depositassem tanta confiança em mim, mesmo quando nem eu mesma me mostrava confiança); satisfação (muito abstrato no nome, mas muito concreto na pártica); determinação (compartilhado não só por eles, mas também por nós alunos); aconselhamento (é verdadeiramente um ponto crucial desenvolvido por nós e que se reflete significativamente neles); progresso (é de todos); desigualdade (talvez algo mais claro que isso não exista); convivência (o caminho de tudo); idoso (fonte de aprendizado). Prática é tudo!!

Conceitos Teóricos: Integralidade, Universalidade, Equidade, familiograma, VD, portifólio, multi-disciplinaridade, SUS, micro-área, unidade de saúde, prontuário familiar, equipe, prevenção, agentes comunitários de saúde (ACS), cadernetas, planejamento, odonto, história, usuário, ficha do idoso, social, conscientização, realidade social, relação médico–paciente;

    Esses conceitos teóricos de certa forma são mais práticos do que teóricos, partindo do princípio que nós os entendemos mais na prática do que na teoria em si. Como entender o conceito de trabalho em equipe envolvendo diferentes profissionais trabalhando em conjunto se não estivermos dentro dessa esfera? Particularmente acho difícil... A fim de ilustrar o papel de cada integrante adiciono esse site que achei muito interessante e descontraído visando sintetizar a função de cada um: http://www.famema.br/saudedafamilia/equipe1.htm 
   Outros conteúdos importantes foram a familiaridade com a ficha do idoso, caderneta do idoso, cartão de vacinação, caderneta da criança, do adolescente... Enfim essa parte de manuseio de fatores relacionados com as consultas dos pacientes, de modo a se criar uma continuação do acompanhamento de cada um individualmente.
  Os princípios do SUS: Universalidade, Equidade e Integralidade também foram pontos frisados nas aulas teóricas e que mais facilmente foram entendidos na prática. Um exemplo que ficou marcado pra mim é o fato do posto de Novo Palmares ficar ao lado de condomínios luxuosos, cujos moradores certamente não precisariam de se utilizarem desse serviço, considerando-se a fonte de renda deles. No entanto, o SUS não faz distinção de pessoas, selecionando talvez as mais necessitadas ou oferecendo tratamento de forma diferenciada, pelo contrário ele abrange a todos. A opção de querer ou não ser incluído nessa atuação é individual e cabe a cada um analisar as suas condições. Lembro-me que quando perguntei se esses moradores também estavam incluídos no PSF me responderam que não estavam por opção, talvez por não acharem necessário ou talvez por não se sentirem confortáveis com a proposta. Porém, o fato é que o direito é de todos de acordo com as necessidades individuais e de maneira total.
    Finalizando essa parte, a relação médico-paciente foi um legado importante deixado por essa experiência. Confesso ter me encantado com o trabalho da Dra. Patrícia. Sempre tive em mente que o relacionamento estabelecido entre o médico e o paciente é essencial e determinante para o acompanhamento do paciente. Ele nos permite entrar no universo das emoções de cada um, criando vínculos importantes para a função do médico. Isso é sobremodo facilitado pela PSF, no qual essa aproximação pode ser ainda maior.

Pontos positivos: Pão com mortadela, respeito, carinho, aconselhamento, VD, reflexão, hospitalidade, aprendizado, gratidão, auxílio, determinação, confiança, atenção, persistência, satisfação, conscientização, presença do auto-cuidado, conversa, convivência, criança, afetividade, ato de dar e receber, acolhimento.

    Muitos dos tópicos abordados nesse campo estão incluídos no campo prático, por isso deixo as mesmas considerações supracitadas, fazendo um breve adendo à afetividade e ao acolhimento que não foram ditos anteriormente, mas que sem dúvidas foram fatores importantes e como a própria semântica dessas palavras demonstra, essenciais.
    As VD´s trouxeram uma significante contribuição também, visto que era o nosso momento de agirmos como estudantes de medicina. Uma experiência única e crucial para a percepção de possíveis alterações ao longo das semanas e de modo a proporcionar um acompanhamento dessas famílias analisando os fatores de risco envolvidos em cada família representada. Além disso, eram através dessas que as intervenções poderiam ser propostas por nós visando o auto-cuidado deles próprios.

Pontos negativos: Padre, engarrafamento, horário, greve, recursos, desigualdade, lama, pobreza, dor, choro, van, portifólio, ausência de auto-cuidado, referências, VD;

   Excetuando-se os contratempos como engarrafamento, atraso da van, horário e o conturbado período do Padre,  a maioria é reflexo da realidade da comunidade, sendo o caso da pobreza, lama, desigualdade, falta de recursos, greve, ausência de auto-cuidado e que infelizmente contempla não só essa população, mas grande parte da população brasileira. Portanto, são pontos negativos com grande abrangência.

Doença: hipertensão, escabiose, DPOC, diabetes, obesidade, hiperatividade, sal, locomoção, fator de risco, cigarro, dieta, choro, dor, Ministério da Saúde; 

   Uma das partes mais práticas de todas. Acompanhar e entender um pouco mais dessas doenças compreendendo os seus fatores de risco e a importância do aconselhamento médico também foram experiências adquiridas e que certamente nos trarão grande  benefícios sociais e profissionais. Algumas dessas já foram mencionadas em postagens anteriores.

    Esse ciclo termina por aqui para que outros se iniciem e tragam experiências tão boas e frutíferas quanto estas.


                                Flávia Gomes
   


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